Quis colocar esse artigo, porque
além de também trazer uma definição e discussão quanto à reabilitação centrada
na família, também traz um caso para discussão e análise.
É um artigo de revisão da literatura
que fala sobre o serviço centrado na família para crianças com paralisia
cerebral e para suas famílias.
Paralisia cerebral é uma condição
causada pela lesão cerebral ocorrida no período pré-natal, perinatal, neonatal e
até que a criança complete 2 anos de idade, que cause uma alteração da postura
ou do movimento dessa criança. Essa lesão não é progressiva, porém também não
regride. Pode estar associada à alterações cognitivas, da linguagem, para a
alimentação (disfagia).
O serviço centrado na família é
composto por um grupo de valores,
atitudes e abordagens para crianças com necessidades especiais e suas
famílias. O serviço centrado na família reconhece que cada família é única; que
a família é a constante na vida da criança; e que eles são os experts com
relação às habilidades e necessidades da criança. A família trabalha junto com
os terapeutas para tomar decisões baseadas em informações com relação aos
serviços e suportes que a criança e a família recebem. Em um serviço centrado
na família, são consideradas as forças e necessidades de todos os membros da
família.
Essa definição reflete as três
premissas básicas da reabilitação centrada na família: (1) que pais conhecem o
melhor de seus filhos e querem o melhor para eles, (2) que famílias são únicas
e diferentes, e (3) o funcionamento ótimo da criança ocorre em uma família que
a apoie e em um contexto comunicativo. Dessas premissas fluem vários princípios
essenciais que, junto com as definições e explanações propostas por outros do
campo, refletem as características comuns e conceitos centrais do serviço
centrado na família. Eles incluem envolvimento dos pais nas tomadas de
decisões, colaboração e parceria, respeito mútuo, aceitação das escolhas da
família, apoio, foco nos potenciais, individualização e flexibilização do
serviço prestado, troca de informações e empoderamento.
O objetivo de trabalhar com a
família de uma criança com necessidades especiais é melhorar a qualidade de
vida de todos os membros da família. Engajamento em atividades significantes e
participação da criança na comunidade também são objetivos primários dos
serviços de reabilitação pediátrica. Consequentemente o impacto da abordagem
centrada na família pode ser visto em um espectro amplo de resultados (metas
atingidas).
As metas devem incluir, aquelas do
funcionamento físico, emocional, social e cognitivo da criança, mas
tem que ir além. A maioria das pesquisas em qualidade de vida foca nas
metas-chave de satisfação dos pais, redução do estresse e preocupações e adesão
aos programas de terapia, e essas metas certamente devem ser consideradas. Em
adição, metas relacionadas aos irmãos, a família como um todo, terapeutas da
saúde e equipes, a organização do serviço e da comunidade também são relevantes
na demonstração dos benefícios do serviço centrado na família.
Os estudos citados nessa revisão
incorporam vários elementos chave da estrutura do serviço centrado na família.
Troca de informações possibilita a base para pais e profissionais trabalharem
juntos em colaboração e foi uma característica comum. Nesses estudos os
pais se sentiram ouvidos, compreendidos, respeitados e apoiados enquanto eles
procuram/recebem serviços que eles sentem terem atingido as suas necessidades
específicas, prioridades e objetivos.
Os achados demonstraram a
importância de comportamentos que promovam a capacidade e competências por meio
do reforço das forças e empoderando-os para tomar decisões baseadas em
informação e direcionar o cuidado de seus filhos.
Parece que o serviço centrado na
família funciona melhor no contexto de equipes interdisciplinares que se
esforçam por disponibilizar cuidado compreensivo e coordenado, mesmo que os
membros dessa equipe não estão fisicamente juntos.
Exemplo do primeiro contato de uma
criança e de sua família com os serviços especiais de saúde.
Pam Green é uma criança
de 18 meses que foi indicada para avaliação por conta da preocupação de seus
pais quanto a um atraso do desenvolvimento.
Na história e ao exame físico
clínico fica claro que ela tem paralisia cerebral do tipo tetraplegia,
provavelmente déficit visual e um atraso do desenvolvimento cognitivo e social.
Os Greens estão tristes com as notícias e têm muitas questões quanto ao
prognóstico, onde obter os melhores serviços para Pam, e o que eles podem fazer
para ajuda-la a alcançar o máximo de seu potencial. Eles também querem saber o
que contar aos familiares e se os avós de Pam podem ter um papel no programa
terapêutico da criança.
Como um neuropediatra ou um pediatra
do desenvolvimento pode promover uma abordagem centrada na família para os
cuidados de Pam? A resposta curta é que o profissional de saúde deve
providenciar serviços de forma interpessoal que envolve, respeite e empodere a
família.
Ele ou ela deve começar com o tempo
necessário para os Greens (e provavelmente os avós de Pam também) para explicar
o que é paralisia cerebral, falando sobre o assunto em mais de um encontro, se
necessário. Mais do que ter uma simples discussão quanto ao típico caso de
paralisia cerebral, a conversa deve abordar os potenciais e necessidades
individuais e únicas da Pam e de sua família.
Então, usando as melhores
informações disponíveis, o profissional de saúde deve responder as questões da
família quanto ao prognóstico de forma aberta, abrindo espaço para a esperança,
especialmente quando a criança é tão nova quanto a Pam. As orientações devem
ser feitas de acordo com a avaliação feita e os programas de tratamento acerca
do desenvolvimento visual, motor e cognitivo de Pam, para apreciação de sua
família.
O planejamento do tratamento deve
ser elaborado pela equipe para a avaliação posterior com feedback estruturado
para os Greens (envolvendo os avós se eles tiverem o interesse).
Planejando as terapias, deve-se dar
atenção especial para coordenar o que será feito por
quem e em qual localidade, para
integrar as terapias e evitar a fragmentação do cuidado o qual a família de Pam
pode facilmente experimentar. O acompanhamento de Pam e de sua família
promoverá uma oportunidade de desenvolver um relacionamento colaborativo entre
os Greens e o consultor especialista em desenvolvimento e também providenciará
a continuidade dos planos e ações que acompanharão as habilidades e
necessidades de Pam, assim como as perspectivas e os objetivos de sua família,
que mudam e se desenvolvem com o tempo.
Agora, vamos conversar mais sobre as
patologias.
Fonte:
King
S, Teplicky R, King G, Rosenbaum P. Family-Centered Service for Children With
Cerebral Palsy and Their Families: A Review of the Literature. Seminars in
Pediatric Neurology 2004 Mar; 11(1): 78-86.
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